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12.7.06

Neste romance, pouco importa se o cenário de fundo é a antiga Tchecoeslováquia ou qualquer outro ponto geográfico.

O autor nos remete a um espaço-tempo metafísico e nos provoca sentimentos que vão da repulsa ao lirismo.



Valendo-se do romantismo moderno, Milan Kundera, sustentado por uma solaridade narrativa, apresenta-nos o poeta Jaromil que pode ser a síntese do lirismo e do niilismo ocidental à sombra do regime comunista.

Jaromil é a personificação da angústia, do inconformismo, da eterna busca (típica dos estetas) pelo belo e a encarnação do mito grego edipiano. O relacionamento do poeta com sua mãe beira a dependência patológica.

Poucas vezes um livro foi capaz de abordar a dor e a delícia do fazer poético com tal profundidade e leveza, resultando num amálgama filosófico-existencial. Além do que, romances sobre poesia costumam esbanjar pieguice e linguagem estereotipada.

Definitivamente, A vida está em outro lugar não é um romance para adolescentes que flertam com o colorido da ingenuidade. A história do poeta Jaromil foi arquitetada para nos amadurecer, enquanto nos revela um escriba tocado pela experiência de ser e estar no mundo com um pé na sua época e outro na elasticidade do pensamento humano.

É um fato que o livro citado não é o trabalho mais famoso de Milan Kundera, mas, certamente, é o mais questionador.

O personagem, a exemplo das criações shakesperianas, rapidamente cria uma identidade no leitor, despertando com facilidade sensações de raiva, empatia, pena e até indiferença.

Jaromil é nosso arquétipo para estudos freudianos numa sociedade em que ainda prevaleciam convicções político-partidárias e a criação literária costumava receber o carimbo de subversiva – bons motivos para a procura por uma sublimação, ainda que ela estivesse em outro lugar.

É impossível sair ileso da morte.

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http://pt.shvoong.com/books/novel/8957-vida-est%C3%A1-em-outro-lugar/

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