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12.10.10

A paixão segundo G.H. 

"Vê meu amor, vê como por medo já estou organizando, vê como ainda não consigo mexer nesses elementos primários do laboratório sem logo querer organizar a esperança. É que por enquanto a metamorfose de mim em mim mesma nao faz nenhum sentido. É uma metamorfose em que perco tudo o que eu tinha, e o que eu tinha era eu - só tenho o que sou. E agora o que sou? Sou: estar de pé diante de um susto. Sou: o que vi. Não entendo e tenho medo de entender, o material do mundo me assusta, com seus planetas e baratas. Eu, que antes vivera de palavras de caridade ou orgulho ou de qulquer coisa. Mas que o abismo entre a palavra e o que ela tentava, que o abismo entre a palavra amor e o amor não tem sequer sentido humano - porque o amor eh matéria viva. Amor é matéria viva? O que foi que me sucedeu ontem? E agora? Estou confusa, atravessei desertos e desertos, mas fiquei presa sob algum detalhe? Como debaixo de uma rocha. Não, espera, espera: com alivio tenho que lembrar que desde ontem ja sai daquele quarto, eu ja sai, estou livre! e ainda tenho chance de recuperação. Se eu quiser. Mas quero?"

-- Clarisse Lispector --

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